SABOR DE MABOQUE - NDAPANDULA MAMA ÁFRICA

SABOR DE MABOQUE - NDAPANDULA MAMA ÁFRICA

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Não há mal que sempre dure...

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Gosto de dar uma passada no jardim antes de me deitar, aspirar os perfumes densos da noite, fitar o céu e investigar a lua, ouvir o farfalhar das franjas dos coqueiros à mínima brisa que toca suas folhas, tatear o frescor da aragem noturna em meu rosto e desejar boa noite ao meu cachorro, que já deitado se limita a erguer as pálpebras e me desmonta com um olhar doce, tépido e preguiçoso.
Ontem porém, a tentativa de manter a rotina me fez perder o sono pelo medo que de mim se apossou ao assistir a uma descarga elétrica natural, como nunca havia antes visto.
Os relâmpagos se sucediam a uma velocidade alucinante brindando a noite com uma claridade continua que iluminava todo no jardim.
Com a infância e adolescência vivida em meio às tempestades africanas, embora me acautele, nunca nutri qualquer temor por raios e trovões, por isso ontem, associando meu surpreendente estado emocional frente à consciência do que nunca me pareceu uma ameaça, com um artigo que li recentemente sobre o aumento dos medos na velhice, fui dormir com uma sensação incomoda de que caminho a passos mais largos do que imaginava para o pico da terceira idade.
Nada como acordar num dia morno e ensolarado de verão e ao ler o primeiro jornal do dia, dar de cara com a manchete em letras garrafais: "Campinas é atingida por 584 raios em apenas 2 dias".
Com um sorriso no rosto, termino de ler a matéria, dissipo o diagnóstico cinzento da véspera e troco o telefonema ao geriatra por um pedido de orçamento de pára-raios e até nem me sinto num país tão "terceiro mundista"*, por ficar amiúde sem energia e sem net!
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6 comentários:

  1. Já tive o privilégio de assistir a grandes trovoadas. E digo privilégio porque uma trovoada intensa é uma oferta dos deuses ao homem, para que ele se convença, aqui e ali, de quão pequeno e insignificante ele é perante a força imensa dos elementos naturais.

    Das muitas trovoadas que vi pude fruir cenários lindíssimos e, tal como tu com destreza descreves no post, também me reconheci, tolhido na nossa pequenez, perante a violência de algumas descargas. Houve, porém, um fenómeno, relativamente frequente na costa oriental de África e que nunca observei em Angola, por exemplo, muito menos na Europa e que é relativamente frequente no sul de Moçambique. O fenómeno consiste na descarga contínua, leste bem, contínua de centenas de faíscas, não tão violentas como as que descreves, mas numa sucessão ininterrupta, o que ocasiona um fenómeno único e de difícil descrição - a noite faz-se dia, vemos distintamente as ruas, os prédios, os carros, tudo num banho de uma luz pálida mas intensa.

    Este fenómeno pode durar alguns minutos, por vezes arrasta-se mesmo por períodos relativamente longos e é possível ver como a tempestade se vai dissipando, à medida que se vai afastando. Faltou dizer que a luminosidade permanente é acompanhada não pelo ribombar robusto dos grandes trovões mas por uma espécie de «marulhar«, como as ondas duma praia, e isso empresta uma serena poesia ao cenário estranho mas esmagadoramente belo que nos é oferecido.

    Quanto aos teus receios da velhice, parece-me avisado trocares a consulta de um geriata pelo orçamento de um para-raios. E, perante a realidade de uma cidade sujeita a 584 raios em dois dias, acho que deves é pensar se alguém, algures no tempo e no espaço, não terá olhado para Campinas e desejado que ela fosse para o raio que a parta. Mas, como vês, nem com 584 raios ela partiu :).

    Texto bonito o teu. Considerando que raios, coriscos e trovões são matéria de alguma agrura, convenhamos que conseguiste pôr-nos a ler com curiosidade e, não menos interessante, com um sorriso nos lábios.

    Manda notícias sobre o para-raios. E pergunta na loja onde o comprares se também têm atrai-raios. Há por aqui pela minha paróquia muita gente a quem eu gostaria de oferecer um pela Páscoa (Páscoa por ser a festa mais próxima que aí vem) :))))
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  2. José Benedito Flores Freitas28 de janeiro de 2011 às 04:43

    Dulce , aqui as trovoadas não tem nada a ver com Angola, Brasil, ou outros.

    Na casa da nossa Fazenda Média 39 na Cela, ainda está lá o PARA-RAIOS , bem visivel que algúem fotografou para me dar uma grande alegria.

    O SABOR DE MABOQUE, já foi lido por mt gente, não só os que estavam destinados como outros que foram emprestados e, há gente esperando para poder ler. Um abraço

    PS: Meu Mano vai resistindo, mas....

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  3. Dulce,
    Eu adoro assistir a trovoadas pois também como sabes, vivi em Angola e são sempre um espectaculo deslumbrante! Também como o teu amigo, assisti uma vez a uma no caminho entre Nova Lisboa-Lobito, em que paramos o carro pois os relampagos eram sucessivos e caiam a pouca distância. Tornou-se literalmente dia com uma luz cintilante.
    Uma beleza e uma força da Mãe Natureza!
    Beijos

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  4. Espumante,
    teu comentário é uma cronica digna de um post de destaque.
    Oooolha o moço que vende os para-raios diz que pode sob encomenda mandá-los decarregar em destinatários certos, mas há o incoveniente de queimar os satélites* de transmissão:)

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  5. Pois é João Benedito, tal como eu tenho certeza que lembra bem das emocionantes e não menos assustadoras trovoadas na Cela.
    Obrigada pelas noticias sobre a caminhada do Sabor de Maboque e torço para que seu irmão não sofra.
    Abraço

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  6. Imagens que para sempre ficam registradas, bacouca e que apesar de passados tantos anos, quando abrimos as gavetinhas de nossa memória, pulam com nitidez espantosa!
    Beijos

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