SABOR DE MABOQUE - NDAPANDULA MAMA ÁFRICA

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domingo, 28 de outubro de 2012

Era uma vez...V



 
 
Outros capitulos desta história: (Era uma vez I-Era uma vez II-Era uma vez III-Era uma vez IV)

Há 1 ano e 5 meses atrás, eu começava um dos mais prazerosos projetos de minha vida.
Doando apenas duas horas semanais  e pouco mais para as reuniões de supervisionamento de minha complicada agenda, eu assumi o papel de colaboradora de “Luisa”, uma linda e inteligentíssima criança, que morava num abrigo infantil, onde dividia seu tempo com mais de duas dezenas de outros pequenos e encantadores seres humanos, em situação provisória ou definitivamente separados da família, por maus tratos ou abandono.
Ao longo deste quase ano e  meio tive muitos momentos de puro divertimento, de leitura de historinhas, a riscos, rabiscos e pinturas coloridíssimas, que íamos colando em seu álbum, entremeando esses momentos onde registrávamos seu dia  a dia com muita brincadeira e coceguinhas.
Uma forma simples de perpetuar sua história, já que a própria condição de abrigada poderia prever um período prolongado, afastada de qualquer membro da família que um dia pudesse relembrar fatos corriqueiros de sua infância.
Como imaginar que não teríamos ninguém para nos ajudar a recordar nossos medos,  nossa expressão perante a queda do primeiro dentinho de leite, ou  no colo do Papai Noel fazendo um pedido, ou ainda quando escrevemos pela primeira vez nosso nome, ainda que de trás para a frente e com alguma letra de pernas para o ar, como foi o caso de “Luisa”?

Se “Luisa” terá esses registros eu terei muito mais!
Terei muitos sorrisos, muitos abraços, muitas palavras, muita alegria, muito aprendizado e algumas frases inesquecíveis.
No fim do quinto mês como colaboradora, uma viagem me fez faltar a dois encontros, previamente anunciados e trabalhados entre mim e ela, através de um  desenho em seu álbum, onde desenhou o avião que me levaria temporariamente a Portugal.
Em nosso reencontro, em meio a um abraço apertado ela me sussurrou uma das belas frase que alguém já me disse:

-Senti tanta fome de você tia Dulce!

Emocionada, tentei disfarçar as lágrimas que se esgueiravam impertinentes, ao me sentir o alimento da primeira e mais básica necessidade do ser humano.
Hoje estou muito feliz, por poder estar escrevendo este texto, com todos os verbos conjugados no passado.
Um passado muito recente, diria mais precisamente ...DE ONTEM, porque “Luisa” acaba de ser adotada!
Ontem foi nossa despedida. Uma adeus feliz. Um  adeus recheado de alegria pela nova vida que todos estamos torcendo e convictos que terá!
Enquanto a  abraçava e lhe dizia que sempre estaria em meu coração, fui presenteada com outra pérola de seus sentimentos sabiamente verbalizados:

-Não vou sentir saudade de você!
Eu espantada:
-Não?!?!?!
Ela com a simplicidade e deliciosa sinceridade infantil de seus 6 aninhos:

-Não, porque vou sonhar sempre com você!

OBRIGADA LUISA...SEJA MUITO FELIZ!!!