(foto real e autorizada pelo senhor Nicanor)
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Um domingo cinzento com garoa a refrescar o amanhecer,
convidava-me a trocar a cama pelo sofá da sala de televisão.
Assim teria sido não fosse eu ter-me deitado com o firme
propósito de ao levantar-me ir caminhar no parque que tanto gosto e há muitos
domingos não recebia minha visita.
A intenção nem era hercúlea. Seis voltas ao redor do lago,
completariam minha meta de 6 quilômetros e me permitiriam saborear sem culpa o
pastel frito na hora na feirinha dominical de produtos orgânicos, onde sou
freguesa habitual.
O pastel não falhou e até o saboreie com uma companhia
maravilhosa mas a minha meta foi abortada no meio da segunda volta pela voz de
um senhor que, sentado num banco de frente para o lago, me perguntava:
-Filha já viu que lindo está o lago hoje com esta neblina a
esconder os patos e as capivaras?
Em minha caminhada, já havia cortado momentaneamente sua vista do lago, passando rapidamente na grama que separava, o banco onde ele se acomodara e o lago e até já tinha percebido e me deliciado com aquela imagem
incomum em Campinas àquela hora da manhã, mas a doçura daquele convite,
convidou-me a sentar e conversar com aquele homem de 98 anos.
Sentados num banco com o lago à nossa frente, alguns
frequentadores domingueiros que como eu não se atemorizaram com as previsões meteorológicas,
alguns patos, capivaras e galinhas de Angola como testemunhas, fui ouvindo extasiada
90 anos da história da cidade onde eu vivo há 40, pontilhada aqui e ali com sua
experiência profissional como engenheiro químico.
Obrigada senhor Nicanor pela aula de história de Campinas e
pela companhia na degustação de nossos pasteis, que foi partilhada a 3, com a
chegada de sua filha que fazia sua caminhada enquanto nós conversávamos.
Voltei para casa mais calórica de físico, de alma e de
conhecimento!
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