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Uma tarde
especial, percorrendo alamedas orladas com a arte da belíssima exposição “Verger e Carybé: entre as duas margens do Atlântico” no Espaço Galeria do
SESI-Campinas.
Uma harmonia
perfeita, entre as fotografias do antropólogo Pierre Berger e as aquarelas do artista plástico Carybé. que permite a ousadia de dizê-las indissociáveis.
Arte que,
através do olhar, nos invade tão intensamente de Brasil africano que permeia de pimenta, batuque, ginga e religiosidade todos os outros sentidos.
Na saída da
exposição, caminhando pela calçada, ainda embevecida pelo acervo que acabara de
degustar, fui abordada por uma criança:
-Quer
comprar goma?
Na mãozinha
daquela menina, estendida na minha direção, havia uma pequena embalagem com
balas de goma.
Antes que eu
respondesse ela olhou surpresa para mim, como se só então me estivesse
realmente vendo, apontou seu dedinho indicador na direção do meu rosto e
perguntou:
-Você é a
escritora que foi na minha escola?
Sem me dar
chance de falar, excitadíssima, continuou:
-É sim! Eu
me lembro de você. Foi muito da hora a sua palestra. Nós lemos o seu livro da “Mãe
África”(Ndapandula Mama África-Obrigada Mãe África) com a professora. É muito
lindo. Muito obrigada. Eu não lembro daquela palavra do seu livro que diz
obrigada lá na sua Angola. Mas eu gostei muito de ler o livro.
Apontando o
dedinho para uma casa a poucos metros de nós, continuou;
-Eu moro
naquela casa ali. Minha mãe está tomando conta do meu irmãozinho que é bebê e
eu vim vender bala pra ajudar ela.
Nicoly, a
palavra que você não lembra é Ndapandula.
Ndapandula
Nicoly, pelo seu abraço delicioso e por me fazer acreditar que vale sim a pena e
é interessante para as crianças, meu trabalho de formiguinha, percorrendo escolas
brasileiras, palestrando e ajudando a descortinar o Brasil africano. Disseminando com isso, uma necessária e merecida interpretação virtuosa de toda a riqueza africana que
aportou no Brasil durante o período escravocrata.