SABOR DE MABOQUE - NDAPANDULA MAMA ÁFRICA

SABOR DE MABOQUE - NDAPANDULA MAMA ÁFRICA

sábado, 28 de novembro de 2009

Distração


Aercio Consolin, escritor, pintor e meu querido revisor de “Sabor de Maboque”, foi-me apresentado pelo editor de minha obra, que mora em Itatiba a 27 km de Campinas, com quem matem estreitos laços de amizade e relacionamento, não só pelos interesses literários como também por morarem em cidades muito próximas.
Há dias atrás recebi um convite através de uma mensagem eletrônica do próprio Aercio para a exposição de seus quadros que dizia: “...A abertura será no dia 27 próximo , às 20 horas, no Espaço Cultural Sobrado AMalfi, na praça central da cidade. É o único prédio com feição histórica....A sua presença na abertura seria muito honrosa...”
Saí de Campinas às 19:50 e apesar da chuva fina e mansa que começou a cair no final da tarde e insistiu em não ir embora até hoje, às 20:25h já estava dentro da cidade.
Depois de parar para pedir informações cheguei à praça central da cidade, onde estacionei o carro e maldisse a minha displicência por não ter levado um guarda chuva.
Arrumada, de salto alto fininho e embaixo de uma chuva miudinha e irritante, circundei a igreja da praça, tentando não prender o salto do sapato entre as pedrinhas da calçada portuguesa, perguntando aos poucos pedestres que havia onde ficava o Espaço Cultural Sobrado AMalfi.
Ainda sob o olhar de ponto de interrogação de um deles, parei no alpendre da igreja, liguei sem sucesso várias vezes para o celular do meu amigo artista e entre as ligações avistei do outro lado da praça um casarão colonial todo iluminado por dentro e com os janelões abertos todos contornados com as minúsculas e tradicionais luzinhas de natal. Respirei aliviada, só poderia ser lá! Até a chuva havia amainado, só persistindo a garoa que o ânimo refeito quase tornava imperceptível, quando apesar do salto caminhei confiante sobre o calçamento português e atravessei a rua de paralelepípedos, certa de que havia encontrado o tão procurado local da exposição.
Poderia finalmente não só abraçar e parabenizar meu amigo, como requisitar o autografo no seu ultimo e delicioso romance o “Entreato Amoroso”, que a esta altura só não estava ensopado, porque minha bolsa era quase uma mala, onde ele ficou protegido.
Quando lá cheguei vi tratar-se de um restaurante e ainda no hall uma senhora gentil que ali chegava para jantar, jurou conhecer muitíssimo bem a cidade e jamais ter ouvido falar daquele casarão que eu procurava. Tão certa estava do que dizia que me perguntou: “Você tem certeza que está na cidade certa?”
Só então como meus filhos diriam, minha ficha caiu e deduzi que a exposição deveria ser na pequena Morungaba, cidade a vinte minutos de onde eu estava.
Já eram 21:05h, eu não conseguia falar com o Aercio, estava úmida, frustrada, inconformada com a minha distração, estranhamente calma, mas tinha um jantar em Campinas e tinha prometido à minha amiga anfitriã e mestre cuca de dotes invejáveis que chegaria para comer o bóbó de camarão até às 22:00h.
Peguei a estrada de volta, paguei mais um pedágio e ainda cheguei a tempo de dar uma passadinha em casa, secar-me, retocar-me e voar para a casa da Ligia, onde saboreei mais uma vez a sua deliciosa culinária. O bóbó, o manjar branco com ameixas em calda, o vinho e o cafezinho, estava tudo perfeito.
À exposição tentarei ir durante a semana depois de pré agendar um horário em que o artista possa estar presente, não só para apreciar a sua obra, revê-lo e parabenizá-lo, como para garantir a dedicatória do meu exemplar de sua obra literária.

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33 comentários:

  1. Dulce,
    Onde você anda com a cabeça?
    Um dia destes você desembarca em Luanda sem querer!
    bjs

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  2. Uma pequena distracção num país tão grande, é facilmente perdoada... ;D

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  3. A julgar por notícias d'um cientista político Brasileiro, a título de contradizer o ufanismo de revista especializada inglesa sobre Angola, e atentem para a lêtra minúscula com que há muito escrevo e DORAVANTE se deveria escrever inglês, england e demais COISAS dessa raíz snob a que elegância, sobriedade, altivez, pompa, respeito, monarquia... desde Cromwell escondem piratas de meia tijela, passando pelos pastores do anglicanismo e lordes nada lerdos no assalto às terras da igreja e na paulada que criou um exército de pequenos arrendatários jogados à miséria ou a masmorras assim parindoem da miséria e de masmorras em cada paróquia proletários e capitalismo, e, tudo quanto a escória faz bem feito em todo o lugar, na inglterra protegido por aquele ar frio e aspecto ético dum cachimbo ou charuto(tire-se Chuchil desta bronca, a parada é outra), Luanda é hoje o remake dessa era. A grana e os gangsteres que fazem de Angola hoje o que a Colombia era quando chegamos ao Brasil moram em Londres. É o dinheiro dado pela Mãe natureza aos Angolanos sem distinção nem julgamentos, que, como o ouro do Brasil e o vinho do porto continuam a se acumular nos bolsos de meia dúzia d'óiazù. E pra isto, o bom 171 que se preza de ser 171 bom sabe como embromar o ambicioso.

    Xinha, a foto de tão esfarrapada desculpa em tantas linhas a esfarrapar-se, me lembra um filme cujo final deixa bifurcação semelhante em terra batida até Tom Waits cansar-se de cantar.

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  4. Também me acontecia sempre, Dulce. Hoje, ninguém me apanha a conduzir sem mapa ao lado, nem mesmo em Lisboa (quando se trate de percursos que não conheça de cor e salteado). É um permanente para-consulta-arranca, mas já não me perco. ;-D

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  5. Dulce,
    acho que foi a chuva que atrapalhou essa tua agenda, ou talvez alguma pedrinha solta da calçada portuguesa, ou a gulodice do bóbó de camarão que te ficou atravessado na garganta, ou...?
    Um trilema está identificado, se chegares a mais conclusões terei que voltar a analisar :-)))
    bj

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  6. JeJé,
    vê então coméssa prima anda coa cabeça meu! Num deixa ela andá na chuva please :-)
    abraço mermão da terra de Vera Cruz, paz ou peace na língua duns quantos oioazu :-)

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  7. Luísa,
    por isso às vezes apanho bicha pra xuxu em Lisboa :-D

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  8. Flip,
    isso mêmo é castigo do Suko y êto. Castigo do Kalunga. Os meu prima tem os home dela qui manda banga nos cumputadô. GPS i aka, o marido sabe faz os GPS no schicola. Campinas tinha o universidade bom quando ainda era chindere só. Ele, o menino Braga era chindere. Ó mola, ó mola não, os filho da Dulce também já tem os GPS também. Tem banga tudos.
    Peace nós temos, Pá. A eles é que lhes falta, Pá. Embora lêtras incontáveis de músicas os avise sobre os caminhos da Paz e do Amor, desde Marlene Dietrich em Where Have All The Flowers Gone até Tim Senders do Yahoo com seu livro a dizer que o Amor é a estratégia, os óiazù parece que num fala inglês. Meu Presidente Lula também já falou isso há um ano atrás. Mas atrás parece que só ps paneleiros é que gostam e nem sabem o que é o Capital. E toda a gente acha que freud tem razão e a beauvoir dois sexos.KKKKKKK

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  9. Esfarrapada só aquela chuvinha que insistia em molhar-me e que não parou até agora!
    Bjs

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  10. Luísa
    Eu sou fã de mapas e GPS! O mais incrivel é que eu não me perdi...como relaciono muito o editor com o revisor, na bifurcação da estrada, simplesmente fui para a cidade do editor, que era à direita e deveria ter ido para a do revisor que era à esquerda.:))

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  11. Flip
    E o bóbó de camarão estava delicioso, ainda bem que deu para chegar a tempo, apesar da chuva que teima em cair até agora!
    Bjs

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  12. Dulce, permita que mande daqui os meus votos ao nosso Flip para que não lhe caiam os dentes com a gracinha... :-)))))

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  13. Luísa
    Não só permito, como lhe agradeço o esclarecimento,
    uma vez que fiquei com duvidas linguísticas mas não quis alvoroçar as
    relações diplomáticas Brasil X Portugal no meu blog!!:)))

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  14. bela estoria..........como o destino no dá surpresas........e que chuva.....
    alferes

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  15. alferes
    ...sempre tão inspiradora...! ;)

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  16. Como essa, só mesmo o fumador que decide ir dormir. Entra no quarto, atira com o cigarro para a cama e lança-se pela janela fora...
    Ou ainda o outro, também fumador que sacou o isqueiro do carro, começou a roê-lo e meteu o dedo no buraco do isqueiro. Agora por roer... também há o poeta, que rimava tudo o que fazia. Vai daí, distraído como só ele,

    Roeu as unhas primeiro.
    Depois, os dedos roeu.
    Foi roendo o corpo inteiro,
    Roeu-se todo... e morreu
    .

    Com comentário tão longo, distraí-me e já não sei o que te queria dizer.
    Não te trates, não :))))

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  17. Espumante
    Que terror!!! OK procurarei tratamento imediatamente...já que não fumo, não rôo unhas e não faço rimas, tenho medo de ficar tão distraída, a ponto de não saber o que te ia dizer !!!! :))))))))

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  18. O bobó de camarão foi feito com carinho para receber amigos e, especialmente meus Compadres, Dulce e Claudio, objetivando brindar nossas alegrias e a certeza da continuidade de nossas vidas, agora entreleçadas pelo amor de nossos filhos !!! Lígia

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  19. Luísa,
    :-))) agora já sei where is the trouble :-))) greeting Mme. :-)

    Dulce,
    bicha? Aí é boiola ou coisa parecida não é? Ou florzinha, também se diz, etc etc...eis a riqueza desta língua :-)

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  20. Ai, ai, ai... Dulce, nem quando vc tinha 3 lojas, a confecção, uns 30 funcionários, a construção da sua casa, os filhos pequenos, mercado pra fazer, idas a São Paulo, nossa... (chega), vc se distraia tanto, hahahaha... ou melhor, se perdia...
    Estou achando que todo este "glamour", estas emoções estão deixando vc nas nuvens...
    Bjos

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  21. Finalmente, numa rápida viagem até ao hemisférios sul, consegui ler o seu livro. Gostei muito e um dia destes vou falar sobre ele lá no CR. Estou com muita falta de tempo, mas hei-de conseguir.

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  22. Dulce,
    Nenhum imprevisto faz você perder seu bom humor. Você transmite uma energia positiva inigualável.
    Beijos e um beijinho para o Gabriel!

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  23. Passei por aqui para resmungar, que não vejo post novo há demasiado tempo :-p

    E para desejar um excelente domingo :-)

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  24. Flip
    Tão rica, que nos coloca por vezes dentro se saias justissimas...ou calças rsrsrs...se não quiser boiolar!!!:))

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  25. Roberta
    Você melhor que ninguém é a prova de que eu não era assim!!...rsrsrsrs...a equação é a seguinte: idade+emoções X emoções X emoções = distração

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  26. Ainda sobre a bifurcação? Ainda na encruzilhada? Ainda sobre a encruzilhada!
    No You Tube pode-se escutar Cat Stevens de barbichinha preta ou Yusuf Islam de barbas grisalhas a cantar a mesma Father and Son. Chego às duas versões, ao tentar identificar a música do Tom Waits dum filme na globo. A engenharia de som pode ter programado vivenciarmos uma profusão de idéias e sensações, feito fogos de artifício enquanto se estende cada vez mais longa a cena duma bifurcação em terra batida ou areia, jogada no ecran, a assinalar o final de um filme antes do The End.
    Gosto de imaginar que tivesse sido Signs of My Father. Fico cada vez mais convencido de ter sido esta mesmo a música do filme, à medida que ela se vai repetindo nos fones.
    E ainda existe a música do Paul Simon, Father and Daughter pra fazer das duas primeiras e todas juntas uma só verdade. Juntas, as três formam um suporte rico em sustança para se decidir seguramente entre o Amor e qualquer outra alternativa. E não me venham com o sexo ser a fonte do prazer. Só admito ser sexo uma fonte prazer se conceber, se fecundar!
    Quem achar que filhos sacrificam a liberdade dos pais prova que sexo nunca foi fonte de prazer, porque nem quando foi pra ter sido, foi. A prática da educação também prova que quase uma maioria absoluta de pais apenas copulou. Ele foi-se e ela foi-se indo.
    Crianças apagadas às dúzias em escolas confirmam terem sido apenas produzidas, são produtos. Produtos dos quais nem o capitalista nem o proletário usufrui do prazer do trabalho. E essa prática, em série nos e.u.a. tem se revelado já um dos !?sucessos? de exportação de lá para o mundo.
    Por quê toda esta lorota no post da bifurcação?
    - o problema da invisibilidade. Xinha faz parte agora de um habitat poderoso. Natural!!!!! Pouca gente conhece o nome da balconista que tira o café ao gosto da gente, no café onde toda a gente vai buscar ou dar prestígio a toda agente. A invisibilidade dos garis já foi vivência de quem defendeu tese.
    Morungaba teve a responsabilidade absoluta na sua invisibilidade em relação a Itatiba ou Campinas. A Dulce nada fez de errado, nem se esqueceu nem pecou por omissão. A culpa está no culto à visibilidade e nesta cultura, natural em Campinas. Quantas mulheres percebi incomodadas por terem observado um companheiro dirigir-se a uma balconista com intimidade de que se achavam exclusivas ou amparadas pela lei dos direitos adquiridos.
    - constato estar a leitura de Sabor de Maboque a ser feita sob a curiosidade de ali ver narrada mais uma história de retornados. As fotos fazem isso muito bem sem comentários. Do ponto de vista da narradora, de uma única narradora, a uma narradora por si só e qualquer que tivesse sido ela, a narradora, ser-lhe-ia absolutamente impossível descrever todos os fatos em toda a sua complexidade e com todas as variáveis que concorreram para cada fato pontual. Por si só, qualquer narradora pode ou deve exteriorizar o que a imginação ditar do seu íntimo e o fará com absoluta propriedade. A percepção de sabores é coisa de foro íntimo, muito pessoal. Vivências contribuem para a riqueza de cada percepção. A percepção do sabor de um maboque está interdita a quem nunca soube de Angola existir. Mesmo lá os maboques do norte nascidos em terras mais ricas e em ambientes mais húmidos apresentam sabores diferentes dos maboques do centro e do sul mais árido. Se a narradora estiver deprimida
    a percepção da tonalidade doce causar-lhe-á mais satisfação. Se a narradora estiver naturalmente motivada há-de satisfazê-la mais, a tonalidade azêda da polpa a envolver os caroços do maboque.
    Sabor de Maboque tem tudo bem balanceado.
    Se Dulce Braga libertou a imaginação de fatos comuns a todas as mulheres, todas as mulheres continuam presas a medos e formalidades morais que lhes limita o erótico, exatamente no que as palavras de Concha Buika expressam LITIRALMENTE.
    EL PRIMEIRO AMOR ES UNA MADRE.

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  27. Carlos
    Obrigada por suas palavras. Tempo é uma fortuna que poucos conseguem alcançar . Há dez dias que ando com ele muito escasso também. Vou espreitando o CR.:)

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  28. Elke
    Que prazer recebê-la neste cantinho!
    Impresvistos dificilmente me tiram o humor, mas fome, sono e sapato apertado...rsrsrsrs!!!!
    Bjs pra vc tb:))

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  29. Fugi
    Obrigada pelo seu resmungo...e veja como ele surtiu uma reação imediata!!;)
    Bom final de domingo para vc!:)

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  30. E há dias como hj em que hora quero os agres e hora quero os doces!
    bjs

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