SABOR DE MABOQUE - NDAPANDULA MAMA ÁFRICA

SABOR DE MABOQUE - NDAPANDULA MAMA ÁFRICA

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Embrião do Sabor de Maboque

 (foto tirada hoje) 




Odeio arrumar papeis.
Vou adiando, adiando, adiando, mas chega uma hora que ou eles ou eu, porque ambos não podemos ocupar o mesmo espaço, como reza uma das incontestáveis leis da Física .
Hoje aproveitando a terça feira preguiçosa de carnaval, arregacei as mangas e prometi dedicar-me à tarefa, que venho empurrando com a barriga há mais de 4 anos.
É isso mesmo, QUATRO anos, que eu não selecionava, arquivava, rasgava, etc.
Havia escritos, rabiscos, alguns puro lixo, outros anotações que guardei com prazer, mas que daqui a pouco podem ter até o mesmo fim e em meio a papeis e mais papeis, achei algo que me tocou.
Quando comecei a escrever o Sabor de Maboque, num processo de verdadeira aspersão compulsiva, gavetinhas e mais gavetinhas de minha memória foram abrindo de forma desordenada seja cronologicamente, seja pelo grau de relevância que a seu tempo atribui aos fatos.
Como o processo de abertura era involuntário, ocorrendo em horas que muitas vezes estava longe do computador, um fiel companheiro acompanhou-me na bolsa durante este período, um bloco de anotações.

Incontáveis vezes em filas de espera ou parada dentro do carro no semáforo, puxei por aquele conjunto de folhas e pela caneta e rabisquei  alguma imagem, um aroma, muitos sabores e variadíssimos sons que eclodiam do vulcão que entrara em frenética atividade dentro de mim.

À noite, sozinha e no mais absoluto silencio externo, sim porque o interno era um turbilhão sinfônico, lia as anotações e com as mãos em frenesim sobre o teclado, aspergia para a máquina um lava incandescente , que muitas vezes  mal lia porque as lágrimas não permitiam,  doía, mas ao final de cada sessão me apaziguava.
Pedacinho a pedacinho, sentia-me sendo resgatada, catarseada, libertada...

Hoje achei todos esses bilhetinhos que escrevi pra mim. Pequenos pedaços de papel repletos de memória e emoção.
Sabor de Maboque acabou virando livro e sendo publicado, já está na quarta edição brasileira, na primeira portuguesa, breve sairá a primeira em francês,  laureou-me com o Diploma do Mérito Literário da Câmara Municipal de Campinas , tem-me proporcionado encontros* e reencontros* fantásticos,  velhos e novos amigos, foi aprovado pela Lei Rouanet do Ministério da Cultura no Brasil, está sendo adotado por escolas, virou tema de  trabalhos universitários, assunto de muitas palestras, foi à televisão e rádio brasileiros e portugueses, entre outras bibliotecas é um dos 1.300.000 exemplares da Biblioteca de Vancouver e faz parte do acervo do Centro IberioAmericano de Berlim.
Tudo isto não constava do script de nenhum dos meus melhores sonhos como comprova o posfácio que figura na ultima página do bloco:
" Hoje vou mandar uma sinopse para a editora. Estou me sentindo como se estivesse entrando numa daquelas odiosas provas de português da adolescência e o pior é que a cada releitura, acho mais e mais erros...um misto de receio, pudor e timidez...masoquista...é isso que eu sou....
 MA SO QUIS TA!"