Já podes dizer que foste lida na Escócia. E durante o festival de Edimburgo de Agosto onde toda a arte é exposta ao mundo nas ruas, teatros, cinemas, livrarias, museus, etc., num acontecimento cultural ímpar. É o ambiente adequado para ler o teu livro, em todos os aspectos.
Ouvi-te dizer na Feira do Livro de Lisboa, em Maio passado, que tinhas romanceado o livro. Não percebi bem onde nem como, porque a realidade e a ficção dos tempos que descreves são certamente confundíveis.
A verdade é que gostei! Gostei mesmo e muito! Parabéns Dulce! Gostei da clareza, da singeleza, do estilo despretensioso, da exposição a que te submeteste (embora alguns nomes tenham sido compreensivelmente trocados), da memória que preservas de Angola, que eu fiz por esquecer, particularmente do Bié, da forma como tornas óbvia a supremacia da voz do sangue, da frontalidade que tens em contar as coisas, incluindo a história dos diamantes, da tónica que pões na tua/vossa religiosidade (como sabes, sou agnóstico) como tábua de salvação em momentos de desespero, pela cuidada pesquisa de palavras em Umbundo que eu já nem me lembrava existirem, pela tentativa de resgatares um passado longínquo, doloroso, penoso, repleto de perdas e ganhos.
À medida que ia lendo o teu livro, particularmente na descrição dos desencontros e reencontros entre familiares, ia pensando: “O que eu escrevi no facebook sobre a minha epopeia parece um plágio do livro da Dulce”. Mas não! Nem podia ser porque não o tinha lido... São apenas histórias de desencontros, ansiedades, reencontros, alegrias, tristezas, medos, perdas irreversíveis, ganhos para a vida, moldagens de personalidades e ideologias, crescimentos forçados, rompimentos com a adolescência, coragens, etc., por que passámos sem ser de vontade própria. São acontecimentos similares que eu, tu e muitos outros vivenciámos no período complexo que antecedeu a independência de Angola e que promoveu a diáspora dos portugueses radicados em Angola por esse mundo fora. São apenas lavagens de alma. Histórias diferentes, mas tão iguais. Estou absolutamente convencido que só nós, os que passámos por algo semelhante, compreendemos o estado de alma de quem escreve isto em toda a sua extensão. Os outros procuram entender, são solidários porque sim, mas estão a anos-luz daquilo por que passámos e que sentimos então e hoje.
Parabéns Dulce! Foi muito bom ter-te lido.
Temos perspectivas de vida muito diferentes. Temos mundivivências e mundivisões substancialmente diversas. Abraçamos o mundo e a vida em continentes diferentes separados pelo Atlântico e pelo Equador. Mas temos algo muito forte em comum. Nascemos no Bié. Crescemos no Bié. Fomos colegas de Liceu e turma. Fomos amigos. Somos amigos. Saímos de Angola pelas mesmas razões. Nem 35 anos e milhares de quilómetros de distância apagaram definitivamente o que tivemos na adolescência. Algo ficou: a amizade desinteressada.
Apenas uma coisa não está clara na minha mente. Não sei como, mas descobri o teu endereço no Brasil quando cheguei a Portugal. Alguém mo deu. Escrevi-te uma carta. Respondeste-me. E o contacto perdeu-se aí. Não me lembro porquê. Não tenho sequer a menor memória da maior parte das ideias que terão sido trocadas nessas cartas, mas certamente coisas triviais. Contudo, ao ler na página 224 do teu livro o excerto “Para ingressar na Unicamp (...) deveria fazer um cursinho preparatório para o exame chamado vestibular (...)” fez-se alguma luz. Falaste-me exactamente disso na tua carta e, provavelmente em resposta a uma pergunta minha de como seria a universidade no Brasil, houve uma resposta qualquer sobre só ser possível, naquela fase dos acontecimentos, aceder a uma universidade muito do interior (Mato Grosso, talvez?). Retalhos de memórias distantes.
Beijo
Viriato
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Querido amigo, retribuo tuas lindas palavras com uma singela pergunta:
-Qual o nome do teu personagem no Sabor de Maboque?
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Minha querida amiga Dulce,
ResponderExcluirEm primeiro lugar agradeço a honra que me deste ao destacares-me aqui no teu blogue com a minha foto a segurar o teu livro e acompanhado das palavras que escrevi.
Mas...
Fiquei baralhado com a pergunta. :))
E até pensei que tinha um truque qualquer... :) mas não vislumbro qual!:)
por isso respondo exactamente ao que foi perguntado, tipo aluno do LNSC a ser inquirido sobre o Frei Luis de Sousa ou os Lusíadas... :))))
Talvez não se possa falar exactamente na minha personagem no teu livro, Dulce. Na realidade, e muito naturalmente e expectavelmente, querida amiga, a história roda em torno de ti, do "Pedro" e da tua família.
A tua referência a mim, Viriato, de que muito gostei por ser prova da resistência de uma amizade a 35 anos de distância e um Atlântico pelo meio, e com o nome certo (hehehe), exactamente o meu, aparece a propósito da comemoração dos teus 16 anos na Primor com a Sandra (e não a Anabela, trocaste-lhe o nome), e a Gina, pois o "Pedro" estava em Luanda.
E essa referência aparece exactamente com o meu nome, Viriato.
Não posso colocar aqui a página dessa referência porque deixei o livro em Edimburgo para a minha filha o ler. Ora toma lá que esta não sabias tu... :)))
Grande beijo do teu sempre amigo
Viriato
(e não Anônimo como "diz" no topo) :))
Querido Viriato
ResponderExcluirMinha pergunta foi somente um veiculo para reiterar publicamente o quanto prezo nossa amizade.
Nota 19,95, porque faltou o número da página (75) :)))...e obrigada pela surpresa!
Beijão
Onde se pode comprar esse livro...www.amazon.com e o maior vendedor de livros na net. Eu penso que este livro no amazon.com teria muito mais saida...Viva A Chaveira unidos vamos mais longe!
ResponderExcluirOlá Anônimo
ResponderExcluirPor enquanto o Sabor de Maboque ainda não está no site da "amazon" mas supondo que more em Portugal, indico-lhe o site da Bertrand para comprá-lo. Se tiver dificuldade em adquiri-lo por favor entre em contato comigo pelo email dulce@mpcnet.com.br
Viva a Chaveira e a Chaveirinha!!!.. que tão homenageada foi no Sabor de Maboque.